O APÓSTOLO PEDRO FOI O 1° PAPA ?????

 O APÓSTOLO PEDRO FOI O 1° PAPA ?????



INTRODUÇÃO

O tema do estudo é bem discutido nos círculos Teológicos e envolve um debate entre o Catolicismo Romano e as religiões Protestantes.

Há uma dúvida imensa sobre quem foi o primeiro Papa de Roma.

Uns afirmam que Lino ( c. 67 – 76 ) foi o primeiro e outros defendem a tese de que Anacleto ( c. 76 – 88 ) ou Clemente ( c. 88 – 97 ) foi o primeiro Papa durante o século 1.

Somente no século 5 que surgiu a ideia de que os papas dos séculos anteriores eram sucessores do Apóstolo Pedro.

Os Teólogos católicos e os Dicionários católicos não são unânimes quanto a questão do Papado ter se originado do Apóstolo Pedro.

A maioria esmagadora de teólogos católicos reconhecem no Papa uma figura importante para a Igreja, mas existe uma tendência de rejeição a infalibilidade papal e de que o mesmo não tem sua raiz no Apóstolo Pedro.

Dois famosos teólogos católicos que lideraram essa rejeição contra a Infalibilidade papal e de que o mesmo tem sua sucessão Apostólica através do Apóstolo Pedro foram o alemão Hans Kung ( 1928 – 2021 ) e o brasileiro Leonardo Boff ( 1938 – presente ).

A liderança católica durante os séculos defendiam a seguinte ideia apologética:

“Se, pois, alguém afirmar que o Apóstolo Pedro não foi constituído por Jesus Cristo o chefe da Igreja ou afirmar que ele não recebeu direta e imediatamente de Jesus o primado de verdadeira e própria jurisdição, mas apenas o primado de honra, tal pessoa seja excomungado”.

A Igreja Católica Romana declara que sua origem é a morte, ressurreição e a ascenção de Jesus, além de proclamar a si própria a Igreja pela qual Jesus Cristo morreu.

Uma leitura atenta do Novo Testamento irá revelar que o catolicismo Romano não tem suas origens nos ensinamentos de Jesus e dos Apóstolos pois, não há menção a respeito do Papado e de sua eventual sucessão Apostólica além da adoração a Maria, a virgindade perpétua da mesma e sua ascenção e eventual co-redentora e mediadora ao lado de Cristo.

Fora isso, não existe no Novo Testamento a idéia de algum ensino sobre petição por parte dos Santos no céu, orações aos mortos, a confissão de pecados a um sacerdote, o purgatório, as indulgências e a reza do terço, etc...etc...

Se a origem do catolicismo Romano não está nos ensinamentos de Jesus e seus Apóstolos, qual a verdadeira origem da Igreja Católica Romana ?

Se o Catolicismo Romano não surgiu no século 1, então, como Pedro foi o primeiro Papa ?

Perguntas como essas serão esclarecidas nesse artigo.

1. MATEUS 16.18 PROVA QUE PEDRO FOI O 1° PAPA ?

A passagem bíblica de Mt 16.18 diz:

“Também eu te digo que tú es Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Nessa passagem o termo “esta pedra” não se refere a pessoa de Pedro como a pedra fundamental da Igreja, e sim, se refere ao próprio Cristo, conforme é afirmado pelo próprio Pedro em 1Pe 2.4-8 de que Cristo é a pedra angular, sendo o mesmo de forma eleita e preciosa ( 1Pe 2.6 ) e isto está em conformidade com o que diz Jesus de si mesmo ao afirmar que Ele mesmo era a tal da pedra angular ( Mt 21.42-44 ).

Mt 21.45 confirma, por meio dos sacerdotes e fariseus, de que Jesus estava realmente falando Dele mesmo como a verdadeira pedra que serviria para fundar a Igreja.

Nessas passagens ( Mt 16.18, Mt 21.42-44, Mt 21.45, 1Pe 2.4-8 ) observamos que Jesus é a pedra fundamental para os que confessam o seu nome, edificam suas próprias vidas Nele, passando então a fazer parte do edifício de Cristo, se tornando pedras vivas da Igreja.

Isto é confirmado pelo próprio Pedro de que a pedra angular era o próprio Cristo ( At. 4.11 ).

Com isso, podemos afirmar com toda a convicção que a Igreja Católica Romana está totalmente errada ao afirmar que Pedro é a pedra angular e que por meio dele foi fundada a Igreja Católica Romana, e ao afirmar que o Papado surgiu a partir desse Apóstolo, sendo o mesmo o 1° Papa e os demais papas seus sucessores, pois essa ideia não apresenta nenhum fundamento Bíblico.

2. MATEUS 16.16-18 É A PROVA QUE PEDRO NÃO FOI O 1° PAPA.

O debate em torno de Mt 16.16-18 favorece a tese de que Pedro não foi o primeiro Papa.

Essa passagem bíblica diz:

“Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Nessa passagem bíblica, Cristo faz uma distinção entre os termos grego PETROS ( Pedro ) e PETRAS ( Pedra ).

Pedro ( PETROS ) é um termo masculino singular, e pedra ( PETRAS ) é um termo feminino singular.

Por causa dessas diferenças de palavras e de gênero, esses termos não podem estar se referindo a mesma pessoa.

Vale destacar que a passagem refere-se a Pedro na segunda pessoa “também te digo que tú és Pedro”, mas o termo “esta pedra” refere-se à terceira pessoa “e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”.

Com isso, podemos afirmar que a expressão

“esta pedra” não se refere a Pedro.

Creio que esse texto comprova de que Pedro não foi Papa.

3. PAULO X PEDRO:

O DEBATE A FAVOR DE PAULO

É importante destacar que o líder da Igreja no início da era cristã era o Apóstolo Tiago, o irmão de Jesus e que Paulo confrontou diretamente com Pedro sobre a questão da circuncisão.

Se Pedro realmente foi o 1° Papa conforme defende o catolicismo Romano, porque ele não era o líder da Igreja no decorrer da evangelização dos Judeus e Gentios no século 1 ?

Outro detalhe é o debate com Paulo sobre a circuncisão.

Pedro era contra a admissão de gentios incircuncisos na Igreja e apesar disso, ele foi o primeiro Apóstolo a ser associado com a missão entre os gentios e devido a essa conduta, isto é, a evangelização dos gentios, recebeu muitas críticas por parte de alguns cristãos Judeus e dos próprios Apóstolos por estar evangelizando os gentios incircuncisos sendo Ele ( Pedro ) contra a entrada desses gentios na Igreja.

Essa crítica veio também por parte dos Judeus cristãos que, como afirmei acima eram contra a admissão de gentios incircuncisos na Igreja tal como Pedro e não aceitavam Pedro pregando para tais.

Paulo foi quem rebateu esse posicionamento sendo contrário a esse pensamento judaico.

Se Pedro foi o 1° Papa, porque o mesmo perdeu a causa com Paulo sobre essa questão ?

E, por que o mesmo ( Pedro ) não ocupou o lugar de Tiago, pois conforme defendem os católicos, ele ( Pedro ) era Papa ?

Não existe base bíblica, histórica, apologética e exegética para defender a tese de que Pedro foi o 1° Papa.

4. NÃO TEMOS DOCUMENTOS NA ERA PATRÍSTICA QUE APONTAM PEDRO COMO O 1° PAPA.

Não temos no período patristico um documento confiável que aponta Pedro como o 1° Papa, pois Cipriano de Cartago ( ??? – 258 ) interpreta “sobre esta pedra” em Mateus 16.18 como Cristo, não exclusivamente Pedro, tal como Orígenes ( 185 – 253 ) e Agostinho ( 354 – 430 ) que interpretaram a “pedra” como Cristo e não Pedro.

Também não há prova sólida de que Pedro tenha sido bispo de Roma, pois Irineu de Lyon (130 – 202 d.C.) fala da tradição de Pedro e Paulo fundando a igreja de Roma, mas não detalha se Pedro foi “bispo” no sentido moderno de Papa, e o historiador na era patrística Eusébio de Cesareia( 265 – 339 ), em sua História Eclesiástica, compila tradições diversas sem promover a ideia de que Pedro foi Papa em Roma.

5. O NOVO TESTAMENTO NÃO AFIRMA QUE PEDRO FOI O 1° PAPA.

O Novo Testamento não retrata Pedro como líder supremo sobre todos os cristãos, pois em Atos dos Apóstolos e nos escritos de Paulo, Pedro é visto como uma das colunas da igreja (Gálatas 2:9), mas não como uma autoridade superior a Tiago (em Jerusalém) ou a Paulo (entre os gentios).

Paulo até corrige Pedro publicamente em Gálatas 2:11-14, algo improvável se Pedro realmente fosse o “papa” infalível.

Outro fator importante é que o termo “Papa” e a estrutura papal surgiram muito depois da era Apostólica, visto que a palavra “papa” (do grego pappas, “pai”) só começou a ser usada para bispos em geral no século III, e só foi associada exclusivamente ao bispo de Roma muito depois dessa época.

Outro detalhe é que Pedro nunca se intitulou líder supremo da Igreja, pois em suas próprias cartas (1ª e 2ª Pedro), Pedro se chama apenas “presbítero” e “apóstolo”, não chefe ou sumo pontífice conforme em 1 Pedro 5:1-3, onde Pedro se chama “presbítero” e instrui os líderes a pastorear o rebanho sem dominar sobre eles e na passagem de 2 Pedro 1:1, ele se apresenta apenas como “servo e apóstolo” e não como líder supremo ou Papa.

Tudo isso comprova que não existem provas válidas de que Pedro tenha sido bispo de Roma e, embora tradições antigas digam que Pedro morreu em Roma, não há evidência bíblica ou histórica direta de que ele tenha sido bispo lá.

6. DA IGREJA PRIMITIVA AO SURGIMENTO DO PAPADO.

Vale destacar que a igreja primitiva foi mudando gradualmente até o surgimento formal da Igreja Católica Apostólica Romana e do papado, pois no século I (anos 30–100 d.C.) a Igreja Primitiva Apostólica tinha como fundamento os ensinos através da pregação dos apóstolos Pedro, Paulo, Tiago, João e de outros.

Cada cidade do período Apostólico tinha sua igreja local autônoma, governada por presbíteros e diáconos, e nesse período da história não existia Papa, nem organização central em Roma.

O Evangelho no século 1 se espalhava por várias cidades principalmente em Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Corinto e Roma.

A partir do século II (anos 100–200), temos o surgimento das primeiras heresias como o Gnosticismo e o Marcionismo, e as igrejas começam a enfatizar a sucessão apostólica para proteger a doutrina.

No século III (anos 200–300) temos uma organização mais rígida da igreja e Bispos importantes como os de Roma, Antioquia e Alexandria começam a ser vistos como “líderes de honra”, mas longe de terem o título de Papa, algo que não era nem citado na época, bem porque não existia autoridade central sobre todas as igrejas nesse período.

Durante o século IV (anos 300–400), temos a consolidação política e religiosa das principais igrejas da época e, no ano de 313 d.C. por meio do Édito de Milão, Constantino legaliza o cristianismo.

Em 325 d.C no Concílio de Niceia, temos a definição de doutrinas básicas do cristianismo e, em nenhum momento desse concílio a questão do papado é citado, se bem que esse termo já era conhecido na época, mas a igreja em Roma era conciliar em que as questões religiosas eram decididas em concílios de bispos e não papal, o que dá a entender que o Papa era apenas um ser religioso entre outros.

Somente no Século V (anos 400–500), surge a ascensão do Papado, pois entre o período de 440–461 d.C., o Papa Leão I (Leão Magno): afirma a doutrina do primado do bispo de Roma, dizendo que Pedro fala por meio dele.

Nesse período (440-461), mais precisamente no ano de 451 d.C, o Concílio de Calcedônia reconhece a “primazia de honra” de Roma, mas não concede poder absoluto ao papa e, a partir desse concílio o bispo de Roma é chamado oficialmente de “papa”, sem ter autoridade absoluta, algo que surgiu décadas após esse concílio.

CONCLUSÃO

A conclusão final é que Pedro não foi o primeiro Papa e a Igreja Católica Apostólica Romana não foi a primeira igreja do cristianismo no século I e boa parte do século II, e não tínhamos nos primeiros 400-450 anos um Papa exercendo autoridade sobre todas as igrejas.

Portanto, o papado e o sistema católico romano são frutos de um processo de séculos, ligados também à política imperial da época.e a sucessão apostólica romana é baseada em tradições posteriores, e há estudiosos que afirmam que a organização da igreja em Roma era colegiada, isto é, dirigida por vários presbíteros e não monárquica no século I.

Com isso, podemos afirmar categoricamente que o Apóstolo Pedro não foi Papa.

APÊNDICE

Conforme a Igreja Católica Apostólica Romana defende, depois do apóstolo Pedro que para o catolicismo é considerado o primeiro papa, a sucessão papal foi a seguinte::

1. São Pedro (c. 30–64/67)

2. São Lino (c. 67–76)

3. Santo Anacleto (ou Cleto) (c. 76–88)

4. São Clemente I (c. 88–97)

5. Santo Evaristo (c. 97–105)

6. São Alexandre I (c. 105–116)

7. São Sisto I (c. 116–125)

8. São Telésforo (c. 125–138)

9. São Higino (c. 138–142)

10. São Pio I (c. 142–155)

11. São Aniceto (c. 155–166)

12. São Sotero (c. 166–175)

13. São Eleutério (c. 175–189)

14. São Vítor I (c. 189–199)

15. São Zeferino (c. 199–217)

16. São Calisto I (c. 217–223)

17. Santo Urbano I (c. 223–230)

18. São Ponciano (230–235)

19. Antero (235 –236)

20. São Fabiano (236–250)

Essa lista dos primeiros 20 Papas conforme defende o catolicismo é baseada principalmente nos escritos dos Pais da Igreja e outros documentos antigos dos primeiros 300 anos da era cristã.

A crítica adotada pelos protestantes são inúmeras, mas as principais é como segue:

1. Os Protestantes argumentam que não há base bíblica para a ideia de que Pedro foi “papa” no sentido romano-católico, isto é, um bispo universal com supremacia sobre toda a Igreja.

Eles reconhecem Pedro como uma figura importante, mas veem a liderança da Igreja primitiva como colegiada, não hierárquica conforme Atos 15 que relata Tiago, e não Pedro, presidindo o Concílio de Jerusalém.

2. Os Protestantes frequentemente afirmam que não há evidências históricas sólidas que provem que houve uma “sucessão formal e contínua” desde Pedro até esses primeiros bispos de Roma.

Os teólogos protestantes indicam que a ideia de um bispo singular em Roma só se consolidou bem depois do século II, ou seja, no início havia colegiado de presbíteros em Roma, sem um único “papa”.

3. Os teólogos protestantes afirmam que o papado foi uma construção histórica, um crescimento institucional lento, influenciado pela importância política de Roma e não uma instituição diretamente instituída por Cristo.

Bibliografia

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2. Norman Geisler. Teologia Sistemática. Volume 2.

3. H. Wayne House. Teologia Cristã em Quadros.

4. Luciano Nobre Frasson. Os Apóstolos: uma investigação Bíblica.

5. Norman Geisler/ Ron Rhodes. Resposta as Seitas.

6. Bruce L. Shelley. História do Cristianismo.

7. Millard J. Erickson. Dicionário popular de Teologia.

8. Gregg R. Alisson. Teologia e Prática da Igreja Católica Romana.

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10. Luciano Nobre Frasson. Os Fundamentos da Teologia Sistemática.

11. Gregg R. Allison. Teologia Histórica.

12. Earle E. Cairns. O cristianismo através dos séculos.

13. Justo L. González. História ilustrada do Cristianismo. Volume 1.

14. Franklin Ferreira / Allan Myatt. Teologia Sistemática.

15. Robert Hastings Nichols. História da igreja cristã.

16. D. A. Carson (editor). Comentário Bíblico Vida Nova.

17. Brian Schwertley. Catolicismo Romano: uma análise Bíblica. (monergismo).

18. Loraine Boettner. Catolicismo Romano.

19. Hans Kung. A Igreja Católica.

20. Jean-Yves Lacoste (editor). Dicionário crítico de Teologia.

Luciano Nobre Frasson

Curso livre em Teologia

Especialização em Pregação

Mestrado em Divindade

Autor de 5 livros de Teologia

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