O Antropocentrismo na Adoração

 “Toda glória seja dada ao homem”



(O Antropocentrismo na adoração)




Introdução

Em muitos lugares a adoração tem sido dividida e como cristãos monoteístas que somos, não admitimos a crença e cultos a outros deuses. Porém um fenômeno tem invadido igrejas e uma nova religião tem surgido, que tem suplantado a adoração ao único e verdadeiro Deus.

Será que é possível que em nossos púlpitos (e palcos), altares têm sido erguidos, mas que não são para Deus? Quem ocupa o centro de nossas canções e sermões?

Adoração a Deus

O conceito de adoração sempre é associado à honra, louvor, glória e serviço prestado à alguma divindade, ou seja, num contexto pagão os fiéis prestavam seus cultos à alguma divindade nacional ou local. Por exemplo: os cananeus adoravam Baal, os egípcios cultuavam Amon-Rá, os assírios veneravam Rimon. O culto variava conforme a cultura e os costumes, mas existia algo em comum: objetos que eram alvos de adoração, deus ou deuses. 

No contexto veterotestamentário o povo que pertencia a Deus, também deveria prestar seus cultos de adoração. Isso se dava de diversas formas, sacrifícios, músicas, orações, festas, salmos.

O único alvo da adoração era o próprio Deus. Diversas são as passagens em que Ele exige para si toda a adoração e chega ao ponto de proibir a fabricação de imagens, para que seus adoradores não dividissem seus corações e mentes com outros deuses.

A relação entre o povo com outras divindades era chamada de Idolatria, pecado que era exemplificado como Adultério ou Prostituição espiritual, uma vez que o povo de Israel, tida como esposa, abandonava seu relacionamento legítimo com o seu “marido” e se prostituía com outras divindades, como vemos no texto de Jeremias 3:6-10:

“Disse mais o Senhor nos dias do rei Josias: Viste o que fez a rebelde Israel? Ela foi a todo o monte alto, e debaixo de toda a árvore verde, e ali andou prostituindo-se. E eu disse: Depois que fizer tudo isto, voltará para mim; mas não voltou; e viu isto a sua aleivosa irmã Judá. E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também ela mesma se prostituiu. E sucedeu que pela fama da sua prostituição, contaminou a terra; porque adulterou com a pedra e com a madeira. E, contudo, apesar de tudo isso a sua aleivosa irmã Judá não voltou para mim de todo o seu coração, mas falsamente, diz o Senhor.”

Também podemos ver essa relação exemplificada no casamento entre o profeta Oseias e Gômer, em que o profeta representa a figura de Deus, como marido amoroso e fiel, dando nome e dignidade para uma esposa prostitua e infiel, que figurava a nação de Israel, que vez após vez saía de debaixo do cuidado de Deus e se punha sobre a falsa tutela de seus amantes (outros deuses)

Os 2 primeiros mandamentos do Decálogo, pontua muito bem o caráter exclusivista que o povo hebreu, recém saído do Egito deveriam ter, em relação à adoração a Deus: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20:3:4a).


Uma nova religião: adoração ao homem

Mesmo com tantas advertências temos enfrentado uma crise no centro de nossa adoração. Muitas de nossas igrejas não seguem o mandamento de exclusividade divina, ou seja, têm deixado de adorar ao Deus verdadeiro e prestam cultos a outras divindades.

Muitos dirão que essa afirmação é um exagero, que não adoramos imagens de esculturas, nem deuses estranhos. No entanto vemos uma idolatria com nova roupagem: o Antropocentrismo. Essa palavra vem de duas raízes gregas: Antropos = homem + kentron = centro.

Classifico essa palavra como a definição de uma nova religião, pois, no culto bíblico, Deus é adorado e Ele é o centro de tudo, já nessa releitura idolátrica o alvo da adoração é o homem. O homem aqui, obviamente, faz menção ao gênero humano e não ao gênero masculino.

Os sermões têm em vista o bem estar humano, afagos no ego, triunfalismo do mais barato. No conteúdo dessas mensagens estão teologias ruins e fracas que distorcem o Evangelho, enaltecem o homem e lhe dá um poder absoluto sobre praticamente tudo, até em Deus. 

O homem determina, decreta, ordena, manda nos céus e na terra. Nessa religião ainda, tudo é feito para o homem, não somente os sermões, mas também as músicas, a agenda, as programações, as mídias sociais, tudo visando o agrado do seu “deus”. O homem está no centro, recebendo honra, glória e louvor.

Isso que vemos, é um problema que Paulo já antevia e preparando seu filho na fé, adverte:

“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos”. 2ª Tm 3:1-2

Profetas, cantores, apóstolos, bispos, líderes, membros comuns e os de alta posição, são aclamados, venerados, custeados, bancados e idolatrados. O homem está no centro. 

Parafraseando a frase de Atanásio de Alexandria, afirmo: “Enquanto Deus se fez homem, os homens se fazem deuses”.

Nessa perspectiva distorcida, quando o homem não adora outro homem, adora a si mesmo e ao seu próprio ventre (Fp 3:19). O ego é inflado e domina suas ações.

Exemplos bíblicos

Apesar de ser denominada “nova religião”, a tentativa de se adorar ao homem é antiga e encontramos dois exemplos na Bíblia.

No Antigo Testamento, temos o exemplo de Nabucodonosor, que de tão grande que era, se envaideceu e recebeu a sentença divina: comer capim (Dn 4:1-37). Depois de ter sido tirado do trono e retornado ao poder, o rei da grande Babilônia, entendeu que a glória pertencia somente a Deus:

“Ao fim daquele período, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, e percebi que o meu entendimento tinha voltado. Então louvei o Altíssimo; honrei e glorifiquei aquele que vive para sempre. O seu domínio é um domínio eterno; o seu reino dura de geração em geração.” Dn 4:34

No Novo Testamento, temos outro caso, o de Herodes que, ao receber glória, não atribuiu a Deus a honra que estava recebendo e por tentar usurpar a adoração, que deveria ser dada a Deus, morreu comido por vermes:

“E num dia designado, vestindo Herodes as vestes reais, estava assentado no tribunal e lhes fez um discurso. E o povo exclamava: Voz de Deus, e não de homem. E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou.” (At 12:21-23) 


Conclusão

Se em um culto, numa igreja, num sermão, numa música ou na vida de alguém, outro deus estiver sendo adorado, o Senhor não fará disputa por território, por isso que em muitos lugares a presença de Deus já não reina mais e não é mais sentida, Ele não é adorado, honrado, louvado e nem glorificado. Ou Ele está no centro ou homem está e onde o homem (ou outros deuses) tem a primazia, Jesus deixa de ser prioridade. Ele mesmo afirmou que é impossível adorar a dois senhores ao mesmo tempo:

"Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". Mt 6:24

Portanto, que restauremos a verdade na adoração dos nossos cultos. Que os sermões sejam bíblicos e estruturados afim de magnificar a Deus, falar sobre o Evangelho de Jesus e sua obra na cruz. Que as composições exaltem os atributos divinos, e sejam direcionadas ao coração de Deus e não ao ego humano. Que a gloria seja dada Deus e não ao homem:

“Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” Salmos 115:1

 Deus não divide Sua glória com ninguém (Is 42:8), se Ele não ocupar o primeiro lugar, não ocupará o segundo. Ele espera que os seus fiéis dediquem sua adoração e serviço, única e exclusivamente a Ele:

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” 1ª Co 10:31

- Pr Michael Oliveira

Sobre o autor: Michael Tiago Leandro de Oliveira Preto é servo de Jesus, pastor auxiliar, casado com Edivania Lela Ferreira de Oliveira Preto há 12 anos e pai da Laura. Teólogo, formado no Curso Avançado de Teologia (antigo Bacharel em Teologia) pelo Instituo Bíblico de Campinas (IBICAMP), professor de Teologia, lecionando no seminário onde se formou e em núcleos teológicos, atualmente está cursando Especialização em Teologia pelo MIDE (Ministério de Discipulado por Extensão).

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