DEBATE TEOLÓGICO ACERCA DO “DOM DE LINGUAS
DEBATE TEOLÓGICO ACERCA DO “DOM DE LINGUAS”.
SUMÁRIO.
Introdução.
1. Glossolalia e outras expressões Teológicas.
2. As teorias sobre o Dom de Línguas.
3. A teoria Cessacionista.
4. A teoria Continuísta.
5. O Batismo no Espírito Santo: 4 pontos de vista.
Bibliografia.
INTRODUÇÃO.
O estudo que preparei serve para entendermos essa difícil questão relacionado ao tema “dom de línguas”.
Antes de começarmos o estudo, precisamos realizar uma exegese da palavra “línguas”.
Falar em línguas, ou Glossolalia vem do termo Grego “GLOSSOLALIA” e se relaciona a um dom espiritual.
A expressão grega “GLOSSA” traduzida por língua se refere não apenas a língua física que fica dentro da boca mas, também, para designar uma linguagem de uma nação (idioma).
Esse dom está registrado nas seguintes passagens Bíblicas:
Mc 16.17
At 2.4
At 10.46
At 19.6
1Co 12.10
1Co 12.28
1Co 14.2
1Co 14.4-6
1Co 14.13-14
1Co 14.18-19
1Co 14.23
1Co 14.27.
Durante o Pentecostes, para que o evangelho fosse anunciado a todos os povos reunidos em Jerusalém, os Apóstolos e provavelmente cerca de 120 pessoas ( At 1.15 ), tiveram o poder sobrenatural do Espírito Santo sobre a vida deles para que os mesmos tivessem a capacidade de falar em outras línguas ( At 2.4 ).
Mas, o que significa falar em línguas?
Podemos dizer que o falar em línguas é uma oração ou louvor expresso em determinadas palavras não compreendidas pelo homem que fala e pela pessoa que escuta a oração de quem ora em línguas.
Mas, em At 2.1-11, as línguas pronunciadas pelos Apóstolos e pelos cerca de 120 presentes ao lado dos Apóstolos eram compreendidas pelo grupo de pessoas ali presentes ( At 2.5-11 ) pois, cada um os ouvia falar na sua própria língua ( At 2.6 ), dando a entender que as línguas faladas (idiomas) eram entendidas pelas nações ali presentes.
Através de At 2.1-13, podemos afirmar que o Espírito de Deus capacitou os Apóstolos com poder sobrenatural a anunciar as grandezas de Deus em línguas humanas desconhecidas pelos Apóstolos mas, conhecidas por aqueles que estavam ouvindo a pregação, para que todos os povos ali presentes pudessem conhecer o evangelho da graça.
A Glossolalia registrado em At 2 parece ter sido uma experiência sobrenatural única e, portanto, temporária mas, em relação a 1Co 12-14, a idéia aparentemente do texto é de que o dom de línguas seja contínuo.
Existem divergências de opiniões entre os teólogos pois, há dúvidas sobre até que ponto a “glossolalia” de dias posteriores se identifica com a “glossolalia” registrado no Novo Testamento.
1. GLOSSOLALIA E OUTRAS EXPRESSÕES TEOLÓGICAS
Antes de entrarmos no debate em si, precisamos entender algumas diferenças entre determinadas expressões citados nas Escrituras Sagradas.
1) A Glossolalia vem a ser o ato de falar em línguas que não são conhecidas pelo falante, podendo ser humanas ou angélicas, e tem como fonte de estudo a manifestação vocal.
Entretanto, o falar línguas estranhas não significa que a pessoa foi batizada no Espírito Santo e nem que apresenta o Dom de Línguas, pois pode ser uma manifestação de cunho não religioso ou relacionado a questões psicológicos.
2) O Dom de Línguas é um dos dons espirituais mencionados em 1 Coríntios 12–14, capacitando alguém a falar em línguas por obra do Espírito Santo e, envolve não apenas o falar, mas também o propósito de promover a edificação pessoal ou da igreja, desde que seja acompanhada pelo dom de interpretação de Línguas.
Nem sempre está relacionado a Glossolalia, pois pode envolver línguas humanas já conhecidas pelo ouvinte como em Atos 2 e, nesse caso não temos a necessidade de apresentar o dom de Interpretação de Línguas, a não ser que seja promovido a interpretação para aquele que fala e não para o ouvinte.
3) O Batismo no Espírito Santo para os Pentecostais é uma experiência espiritual distinta da conversão, na qual o crente é revestido de poder ao falar em línguas e tendo essa experiência como um sinal inicial de que o mesmo foi Batizado pelo Espírito Santo, porém outras tradições teológicas veem o batismo no Espírito Santo como ocorrendo no momento da conversão sem apresentar o Dom de Línguas e, obviamente a Glossolalia.
4) A plenitude no Espírito Santo é o estado contínuo de ser dominado e guiado pelo Espírito Santo e, dessa forma se torna algo diferente do batismo no Espírito Santo, pois esse último ocorre no momento da conversão enquanto que a plenitude no Espírito Santo acompanha o convertido pelo resto de sua vida:, sendo a mesma renovável e depende da submissão constante do crente.
5) Estar cheio do Espírito Santo vem a ser a expressão prática geralmente usada para descrever momentos específicos de unção e ousadia, isto é, o poder do Espírito Santo em um determinado período de sua vida e não por todo o período de sua vida conforme a plenitude no Espírito Santo.
Dessa forma, estar cheio do Espírito Santo está relacionado ao momentâneo enquanto a plenitude no Espírito Santo é algo duradouro durante toda a vida do convertido.
6) A expressão selados no Espírito Santo se relaciona ao ato de Deus na salvação, marcando o crente como Sua propriedade gerando com isso a garantia da salvação e da herança futura na glorificação eterna.
Essa garantia ocorre em união com o Batismo no Espírito Santo no ato da conversão não tendo ligação através de uma experiência posterior.
Levando em consideração as expressões citadas, estamos aptos a dar continuidade no tema em questão e, dentro do propósito desse artigo, a questão em pauta se relaciona aos termos “Glossolalia”, “Dom de Línguas” e “Batismo no Espírito Santo”, que será estudado com mais ênfase a partir do próximo capítulo.
2. AS TEORIAS SOBRE O DOM DE LÍNGUAS.
Levando em consideração que existem vários pontos de vista sobre o “dom de línguas” e, que o mesmo está. Relacionado com a expressão “Glossolalia”, e o tema Batismo no Espírito Santo não fica fora dessa questão, desde já devemos separar em dois métodos de estudo que são:
* Os Cessacionistas.
* Os Continuistas.
Geralmente, esses métodos se dividem em 4 modelos de interpretação sobre o dom de línguas que refletem as diferentes posições teológicas entre continuístas e cessacionistas:
1) Cessacionista Clássico
O dom de línguas cessou no final da era apostólica, e eram idiomas humanos reais, usados para autenticar os apóstolos e sinalizar julgamento a Israel.
2) Continuísta Pentecostal
O dom de línguas continua hoje e é o sinal inicial do batismo no Espírito Santo.
3) Continuísta Carismático
O dom de línguas continua hoje, mas não é sinal obrigatório do batismo no Espírito Santo como no modelo Pentecostal
4) Cético ou Naturalista
O dom de línguas não é sobrenatural, mas uma manifestação psicológica ou sociocultural em que os sons apresentam um modelo não estruturado, isto é, sem o conteúdo linguístico real.
Entre esses 4 modelos de interpretação, existem as subdivisões que será estudado no próximo capítulo.
3. A TEORIA CESSACIONISTA.
Para os Cessacionistas, as línguas de At 2 são línguas humanas enquanto que as línguas em 1Co 12-14 são línguas humanas usando expressões de êxtase, algo ausente em At 2.
Obviamente, o dom de Interpretação de línguas só foi necessário em 1 Co 12-14, diferente de At 2 ao qual os ouvintes entendiam os pronunciamentos dos Apóstolos durante a pregação do evangelho.
Os Cessacionistas afirmam que o “dom de línguas” em 1Co 12-14 serviu para edificar a Igreja primitiva quando acompanhado pelo “dom de Interpretação de Línguas” mas, posteriormente, esses dons não eram mais necessários, isto é, o “dom de línguas” teve uma importância limitada apenas para a Igreja do período Apostólico.
Nesse caso, o “dom de línguas” cessaram após a conclusão do Novo Testamento.
Quanto a At 2, o evento registrado no Pentecostes em Jerusalém foi um acontecimento único na História da igreja cristã.
Os Cessacionistas afirmam que a passagem de 1Co 13.10 dá crédito a visão Cessacionista.
A Interpretação adotada é de que a expressão
“quando, porém, vier o que é perfeito” em 1Co 13.10 esteja se referindo a igreja primitiva, no sentido de quando a mesma estiver madura ou, conforme a maioria dos Cessacionista interpretam, significa dizer quando as Escrituras Sagradas estiverem completas.
Obviamente que dentro da afirmação Cessacionista, o Cânon das Escrituras Sagradas foi completada com o livro de Apocalipse no final do século 1 e, a igreja passou a se tornar madura com a implantação dos gentios na mesma.
Baseado nessa Interpretação, o dom de línguas cessou no século 1 não sendo mais necessária, se tornando algo irrelevante para o período posterior.
No cessacionismo temos diferentes interpretações sobre o dom de línguas.
Embora todos afirmem que esse dom não está mais ativo hoje como no período bíblico, divergem em como compreender o dom de línguas em seu contexto original.
Os modelos cessacionistas são:
1) Modelo de Glossolalia como idiomas humanos reais (modelo histórico) diz que o dom de línguas era a habilidade sobrenatural de falar idiomas humanos reais e identificáveis, com propósito missionário tal como em Atos 2, onde as línguas são compreendidas pelos ouvintes de várias nações.
Como essa necessidade foi suprida na era apostólica, especialmente para autenticar a mensagem do evangelho, o dom cessou após o fim dessa fase inicial da era cristã.
2) Modelo de Glossolalia como sinal de julgamento para Israel (modelo profético) afirmam que as línguas funcionavam como um sinal de juízo divino contra Israel pela rejeição do Messias cumprindo Isaías 28:11–12 e 1 Coríntios 14:21–22, cita essa passagem de Isaías e apresenta as línguas como “sinal”.
Uma vez cumprida essa função profética, não há mais necessidade do dom de línguas.
3) A Glossolalia como uma autenticação apostólica (modelo fundacional) diz que os dons sobrenaturais, incluindo línguas, tinham como propósito autenticar os apóstolos e a revelação divina antes da finalização do cânon bíblico (2 Coríntios 12:12), e como não há mais apóstolos e a revelação está completa, esses dons cessaram.
4) Modelo de manifestação temporária (modelo redentivo) afirma que os dons de línguas pertenciam a uma fase especial da história da redenção, marcando a transição entre Antigo e Novo Testamento e a inauguração da igreja e, obviamente os dons cessaram naturalmente após cumprirem sua função histórica na fundação da igreja.
4. A TEORIA CONTINUISTA.
Para os Continuístas, o “dom de línguas” registrado em At 2 são línguas humanas mas, o “dom de línguas” em 1Co 12-14 são línguas celestiais.
Eles afirmam isso pelo fato que em At 2 não tivemos a necessidade do “dom de Interpretação de Línguas” por serem línguas humanas enquanto que em 1Co 12-14, por serem línguas celestiais, foi preciso o dom de “Interpretação de línguas”.
Os Continuistas afirmam que o “dom de línguas” tem persistido ao longo dos séculos mas, a partir do século 20, esse poder concebido pelo Espírito Santo tomou um rumo mais abrangente dentro da igreja cristã.
Sobre 1Co 13.10, os Continuístas afirmam que a expressão “quando, porém, vier o que é perfeito” esteja se referindo a volta de Cristo.
Com essa Interpretação futurista desse versículo, o “ dom de línguas” vai permanecer ativo até imediatamente a volta de Cristo.
Vale destacar que no continuismo temos diversas abordagens para entender o dom de línguas:
1) Glossolalia como idioma humano desconhecido (modelo missionário) em que o dom de línguas seria a capacidade sobrenatural de falar línguas humanas desconhecidas pelo falante, visando especialmente a evangelização intercultural conforme Atos 2 onde os discípulos falam “línguas” compreendidas por estrangeiros presentes.
2) Glossolalia como idioma angelical (modelo espiritual) em que as línguas não seriam necessariamente humanas, mas uma linguagem angelical, usada para edificação pessoal e oração conforme 1 Coríntios 13:1 (“línguas dos homens e dos anjos”) e 1 Coríntios 14:2 (“ninguém o entende; e em espírito fala mistérios”).
3) Glossolalia como expressão emocional (modelo psicológico), onde a glossolalia é vista como uma expressão sobrenatural que transcede idiomas articulados, surgindo de uma experiência extática ou profunda com o Espírito Santo e, nesse caso o foco não é a estrutura linguística como um dom, e sim uma experiência de adoração ou oração.
4) Glossolalia como oração (modelo devocional) em que as línguas são usadas principalmente em oração privada, como forma de se comunicar com Deus quando as palavras humanas falham conforme Romanos 8:26.
5) Glossolalia como sinal do batismo no Espírito Santo (modelo pentecostal) na qual o falar em línguas é o sinal inicial obrigatório de que alguém foi batizado no Espírito conforme Atos 10.
6) Glossolalia como modelo coletivo para edificação da igreja (modelo eclesiológico) em que as línguas podem ser usadas publicamente (em grupo), mas devem ser interpretadas e, dessa forma temos o uso do dom como ferramenta para edificação da igreja, e não apenas para experiência pessoal.
Tal como em 1 Coríntios 12 e 14.
5. O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO:
4 PONTOS DE VISTA.
O assunto do batismo no Espírito Santo está diretamente ligado ao tema “Dom de Línguas” que, obviamente tem ligação com a expressão “Glossolalia”.
Os 4 modelos a seguir retrata bem o que vem a ser o “Batismo no Espírito Santo”.
1) Pentecostal
O batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e subsequente à conversão ao qual é acompanhado pelo falar em línguas como evidência inicial e esse batismo capacita o indivíduo para uma vida cristã mais poderosa e para o serviço no Reino de Deus.
2) Tradicional
O batismo no Espírito Santo ocorre no momento da conversão e não existe a necessidade de uma experiência separada para ser “batizado” no Espírito Santo como no modelo Pentecostal.
O crescimento espiritual vem por meio da santificação progressiva e não por meio de uma experiência única conforme o modelo Pentecostal ensina.
3) Cessacionista
Essa teoria, afirma que os dons milagrosos como línguas, profecias e milagres cessaram após a era apostólica.
Dessa forma, o batismo no Espírito Santo ocorre na conversão e as manifestações sobrenaturais vistas em Atos eram específicas para aquele período.
4) Terceira Onda
Essa teoria afirma que o batismo no Espírito Santo ocorre na conversão, mas que os dons espirituais como Profecia , milagres e falar em línguas podem ser experimentados posteriormente.
Diferente do pentecostalismo, essa teoria rejeita a ideia de que o falar em línguas é o sinal inicial do batismo no Espírito Santo.
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20. Guilhermino Cunha. O dom, os dons e o fruto do Espírito Santo. V.1, n.2. (Revista fides reformata).
21. Charles C. Ryrie. Teologia Básica.
Luciano Nobre Frasson.
Formação em Teologia curso livre.
Especialização em Pregação.
Mestrado em Divindade.
Autor de 5 livros de Teologia.
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