A Salvação no Antigo Testamento

 A Salvação no Antigo Testamento 

André Fraidenberg. 



 

Muitos perguntam, como era a salvação no antigo testamento, se a salvação é pela graça e como os personagens do antigo testamento eram salvos. A salvação no antigo testamento ocorria da mesma forma que o novo testamento ensina, ou seja, pela fé, como está escrito em Efésios 2:8-9 “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. Deus não mudou sua forma de salvação, Abraão foi justificado pela fé (Gn 15:6, Rm 4:23), Enoque e Elias foram transladados, não há sombra de dúvidas que existiram homens que tiveram o mesmo nível espiritual desses mencionados. 

 A graça foi exibida na eleição de Israel por Deus, pois a eleição de Israel foi um ato divino. Por que Deus escolheu Israel, e não outras nações? 

Deuteronômio 7:7,8 responde essa questão: “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o Senhor vos amava, 109 e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito”. Quando o povo caia no pecado, a graça estava lá sendo exibida na restauração constante que Deus operava no meio do seu povo. Ao quebrarem a lei, Deus por sua graça, não rejeitava o povo. Ao entrar em Canaã, o povo desobedeceu aos mandamentos do Senhor, sendo levados cativo, porém a graça de Deus nunca se ausentou de seu povo (Jr 31:20; Os 2:19). Deus havia feito promessas de uma nova era, essa promessa foi feita justamente no período em que a lei estava sendo quebrada (Jr 31:31,32). Durante o período da lei, Deus se revelou como YHWH, onde o mesmo traz consigo muitos significados específicos da graça de Deus manifestada ao seu povo (Sl 143:11).  

Charles Ryrie, sobre como a graça se mostrava ao tempo da lei escreveu: 

“Os dispensacionalista muitas vezes retratam a Lei como um período em que a capacitação de Deus esteve completamente ausente. É verdade que há um acentuado contraste entre a capacitação dada nos tempos da Lei e a obra do Espírito Santo hoje (Jo 14.17), mas não se pode dizer que não havia nenhuma 110 assistência capacitadora ao tempo da lei. O Espírito habitou em muitos (Dn 

4.8; 1° Pe 1.11) e veio sobre várias pessoas para lhe dar poder especial (Ex 28.3; Jz 3.10; 1°Sm 10.9-10), ainda que não houvesse nenhuma garantia de que ele habitaria permanente ou universalmente no povo de Deus como faz hoje”.  

Podemos citar Hebreus 9:15 “E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna”. Pearlman afirma: “Sabendo que os sacrifícios de animais eram insuficientes, e que o único sacrifício perfeito era o de Cristo, em que base então foram salvos esses santos do Antigo Testamento? Foram salvos por antecipação do futuro sacrifício realizado. A prova dessa verdade encontrase em (Hb 9:15), que ensina que a morte de Cristo era, em certo sentido, retroativa e 111 retrospectiva; isto é, que tinha uma eficácia em relação ao passado. Em Hebreus 9:15 sugere o seguinte pensamento: a Antiga Aliança era impotente para prover uma redenção perfeita. Cristo completou essa aliança e inaugurou a Nova 

Aliança com a sua morte, a qual efetuou a “redenção das transgressões que estavam debaixo do primeiro testamento”. Isso significa que Deus, ao justificar os crentes do Antigo Testamento, assim o fez em antecipação da obra de Cristo, 

“a crédito”, por assim dizer; Cristo pagou o preço total na cruz e apagou a dívida. Deus deu aos santos do Antigo Testamento uma posição, a qual a Antiga Aliança não podia comprar, e assim o fez em vista duma aliança vindoura que podia efetuar. Se perguntassem aos crentes do Antigo Testamento se durante a sua vida gozaram dos mesmos privilégios que aqueles que vivem sob o Novo Testamento, a resposta seria negativa. Não havia nenhum dom permanente do Espírito Santo 112 (João 7:39) que acompanhasse seu arrependimento e fé; não gozavam da plena verdade sobre a imortalidade revelada por Cristo (2 Tim. 1:10), e, de modo geral, eram limitados pelas imperfeições da dispensação na qual viviam. O melhor que se pode dizer é que apenas saborearam algo das boas coisas vindouras”. Além disso podemos fazer uma observação do livro de Levítico: “Porém, se sua mão não alcançar duas rolas ou dois pombinhos, então aquele que pecou trará pela sua oferta a décima parte de um efa de flor de farinha, para expiação do pecado; não deitara sobre ela o azeite, nem lhe porá em cima o incenso, porquanto é expiação do pecado” (Lv 5:11). Este texto trata o contexto de classes de pessoas que deveriam fazer o sacrifício pelo seu pecado cometido, e se a pessoa fosse muito pobre, a ponto de não ter condições de adquirir um cordeiro para o sacrifício, Deus então ordenava que essas pessoas trouxesse rolas ou pombinhos como sacrifício, mas e no caso de pessoas ainda mais pobres, que não tinham condições de fazerem isso? Deus também requeria que essas pessoas confessassem seus pecados e estipulou que para os que não tivessem condições, poderiam ofertar a décima parte de um efa de flor de farinha (farinha fina) como está 113 escrito (Lv 5:11). Note que o derramamento de sangue no culto levítico era importante por tipificar a morte de Jesus, mas nesse caso mencionado, não havia derramamento de sangue, como resolver essa questão? Para essa questão precisamos recorrer a carta aos hebreus, onde a finalidade da carta é fazer um contraste entre o antigo e o novo conserto, sendo o antigo imperfeito e provisório, e o novo perfeito e eterno.  

Em Hebreus 9:22 está escrito “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão”. Somente o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário é único e suficiente e que pode remover o pecado, (Hb 10:4,12,14). Pearlman afirma: “Os sacrifícios do Antigo Testamento eram bons. Se não fossem, não teriam sido divinamente ordenados. Eles eram bons no sentido de terem cumprido um determinado propósito incluído no plano divino, isto é, um meio de graça, para que aqueles do povo de Jeová que haviam pecado contra ele pudessem voltar ao estado de graça, serem reconciliados, e continuarem no gozo de 114 comunhão com ele. Quando o israelita havia fielmente cumprido as condições, então podia descansar sobre a promessa; “o sacerdote por ele fará expiação do seu pecado, e lhe ser perdoado” (Lev. 4:26). Quando um israelita esclarecido trazia oferta, estava ele cônscio de duas coisas: primeira, que o arrependimento em si não era o suficiente; era indispensável uma transação visível que indicasse o fato de ser removido o pecado. (Heb. 9:22.) Mas por outro lado, ele aprendia com os profetas que o ritual sem a correta disposição interna do coração também era mera formalidade sem valor. O ato de sacrifício devia ser a expressão externa dos sacrifícios internos de louvor, oração, justiça e obediência — sacrifícios do coração quebrantado e contrito. (Vide Sal. 26:6; 50:12-14; 4:5; 51:16; Prov. 21:3; Amós 5:21- 24; Miq. 6:6-8; Isa. 1:11-17.) “O sacrifício (oferta de sangue) dos ímpios é abominação ao Senhor”, declarou Salomão (Prov. 15:8). Os escritores inspirados, em 115 termos claros externaram o fato de que as “emoções ritualistas não acompanhadas de emoções de justiça eram devoções inaceitáveis”.  

Ao olharmos para o novo testamento, temos alguns textos que comprovam que os personagens do antigo testamento foram salvos pela graça, por meio da fé. Em Romanos 3:25 está escrito “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”. Na época do antigo testamento, Deus não havia punidos todos os pecados cometidos pelo povo, Ele havia tolerado os pecados, mas quando Cristo morreu, ele pagou os pecados anteriores que Deus havia perdoado e que agora estava demonstrando sua justiça. Deus é realmente justo, Paulo já havia declarado isso em Romanos 2:4 ao afirmar que Deus tem sido longânimo, bondoso e paciente em relação aos pecadores, para que venham a se arrepender. Por isso o texto citado de Romanos 3:25 começa afirmando que “Deus propôs para propiciação”, a palavra propiciação deriva do latim propitio, significa “reconciliar”, “pacificar”. Os pagãos tinham a ideia de propiciação como aplacar a ira de um deus vingativo, mas para o único e verdadeiro Deus, o qual servimos, propiciação é satisfazer a lei divina. 

116 Sabendo que Deus “enviou seu Filho, na plenitude dos tempos” (Gl:4.4), Jesus é a nossa propiciação, e também o nosso propiciatório. “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1° Jo 2:2).  

A graça sempre foi o método de Deus como provisão para o transgressor da lei nos tempos do antigo testamento, “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor 

Jesus Cristo, como eles também” (At 15:10,11), essa passagem não nos deixa dúvida quanto a isso.  

Para concluir, podemos citar o texto de Hebreus 11 onde trata-se dos heróis da fé, o autor inicia o capítulo 12 da seguinte forma: “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta” (Hb 12:1). Existem algumas interpretações equivocadas sobre esse texto, mas considerando que ele escreve tal versículo, após terminar a exposição sobre os heróis da fé, sendo todos eles do antigo testamento, ou seja, podemos concluir que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, no sentido de ter um lembrete diário, de que podemos ser encorajados pela forma com que os santos do passado viveram pela fé na Palavra do Senhor. Eles já completaram a corrida que estamos correndo agora, e foram vitoriosos e assim devemos tê-los como exemplo e sermos encorajados nessa jornada cristã, olhando sempre para Jesus, nosso maior modelo de fé, portanto é notório a luz da bíblia que a salvação no antigo testamento foi pela graça por meio da fé e não pelas obras da lei. 

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